sexta-feira, 4 de março de 2011

aberta a temporada de caça aos ciclistas

o brasileiro motorizado muitas vezes parece ter a mãe na zona. vê um ciclista, e não resiste a dar um susto, ou arremessar-lhe algo.
não há ciclista urbano nesse país que já não tenha tomado um grito na orelha que o tenha derrubado ou quase derrubado. não há ciclista de estrada que não tenha sido agredido. no audax 600 de sp, ano passado, nosso amigo rafael dias de menezes tomou uma pedra de gelo no meio das costas, arremessada de um carro a alta velocidade. teve que parar num posto médico na beira da estrada pra ser atendido. a renata falzoni contou que certa vez tomou um grito desses na orelha e por sorte estava perto deum policial, pra denunciar a tentativa de assassinato. pode-se matar com um grito? sim! um grito na orelha assusta e derruba o ciclista, e no tombo ele pode morrer, mesmo usando capacete e uma armadura completa.
mas não só gritos matam ciclistas. a imprudência mata. em londrina, no dia 01/03, houve um protesto de ciclistas em razão de um quase acidente:  uma picape bordô quase atropelou um grupo de ciclistas parados… numa ciclovia! sim, o veículo invadiu a ciclovia. mais infos aqui. chama a atenção a intenção: buzinou e deu tchauzinho pros ciclistas…
também chama a atenção a declaração de luciano pagliarini, um brasileiro que participou de corridas importantes como o tour de france o giro d´italia: já tive vários casos de desrespeito durante treinos na estrada, com gente arremessando coisas.
essa é uma prática infelizmente comum. no carnaval de 2010, enquanto subia a rua teodoro sampaio, em são paulo, tomei uma lata de cerveja na cabeça. por sorte estava de capacete. mas caí, me arranhei.
são formas variadas de humilhação, formas variadas de nos passar a seguinte mensagem: “você não vale nada, você é uma coisa, um objeto”. até mesmo um objeto sexual apenas. como pode-se ler nesse amargo post da marina chevrand no blo das pedalinas. aliás, as meninas que pedalam estão cansadas das gracinhas dos marmanjos.
todos esses atos causam dor: dor física, dor moral. e o que o ciclista fez por merecer isso? recebe isso apenas por estar ali, por existir. o crime é esse: existir sem incomodar.
num país onde se atacam homossexuais na rua, onde se atacam empregadas domésticas, onde já se tacou fogo em índio e se alegou que foi por engano, pois achavam que era um mendigo  (e mendigo não é gente pra essas pessoas), não é de estranhar que se grite na orelha do ciclista, se buzine às suas costas (na intenção de que ele suma da frente),  se lhe arremesse coisas. ou mesmo que sejam os ciclistas intencionalmente atropelados.
isso chama-se desprezo pelo outro. o outro que é coisificado, transformado em coisa. isso ocorre quando se sente o indivíduo muito acima do outro. no brasil, ainda herança da escravatura, do aristocracismo português herdado da vinda da corte em 1808, do “você sabe com quem quem está falando?”
um carro, umas cervejas e pronto, a verdadeira natureza do animal no volante aparece. o tapa na bunda da menina, a pedra de gelo nas costas do randonneur, a lata de cerveja no commuter, o atropelamento dos ciclistas.  o desprezo que pode matar.
aqui um formulário de pesquisa sobre esses incidentes. gerenciado pelo MIG. ciclista, preencha. ajude a formar o mapa da violência.

Fonte: 
http://asbicicletas.wordpress.com/2011/03/04/aberta-a-temporada-de-caca-aos-ciclistas/

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