segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Poesia de Rua

Passe o passe
Pela janela aberta,
Ouça a catraca
O barulho da moeda.
Penetre o cinema,
Na tela espirrada
 - Que brilha, brilha gotas vermelhas.

A poesia brotou das cidades,
Escrita nos túneis 
Aquela imagem dementada,
De uma lembrança antiga,
Que erguia menos viadutos
Para servir de casa.

O vento das palavras
O boato da filosofia
Diz o êxodo dos corações.

No asfalto não brotaram flores,
As pétalas brotam de nossas pálpebras,
Correm aos pés rios de esgoto.
A pele se fez de ferro fosco,
O som é de ranger de dentes.

Não existe tempo,
Agrupamento,
Ou pensamentos.

No meu apartamento
Planta-se bananeira,
O chão veio pelos ares
E o céu caiu
Sobre nossas cabeças.

Sendo essa arte
Quem nos desenhou 
Tanta esperança, 
Aguçemos nossos ouvidos:
Uma criança ainda chora lá fora

 POetas da cidade, quem foram eles?
 
Os mestres que viram a mudança chegar

Pouco a pouco nas cidades,
Ou de mudança,

Viram o bonde passar antes do fim.
Já era o final, nos trilhos

Chegando na próxima semana.

Apareceriam motores.
"Almejo sim, isto, trapaceiro!"
Da modernidade,
Que viu muito, amou
Melancólica a guerra, o carro, o poeta...
Quem diria na gaveta, Jorge Fernandes:
Nem os cães ladram como antes.

A única árvore na avenida
É gorda demais
Mancha a vista
Traz de baixo do chão
Mortos-vivos do futuro 
Que queremos espantar.
Cemitérios já são pequenas cidades
Da região metropolitana do pensamento humano.
 
Morto ou Vivo?

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